Haviam dois tipos de perfil nos ringues, o lutador mau e trapaceiro, e o bom moço, personificado na imagem de Ted Boy Marino.
Apesar de ser tudo combinado, o público, que vibrava com suas tesouras voadoras, ficava revoltado com as mazelas sofridas por ele no ringue. Tanto que em certa ocasião, a sua colega de TV Excelsior, a atriz Lourdes Mayer, indignada com a luta, entrou no ringue e bateu em seu adversário com um guarda-chuvas, para corrigir a injustiça. Se Lourdes Mayer, que trabalhava nos bastidores da emissora comprava este enredo do bem contra o mau, imagina o público, ainda iniciante no consumo televisivo.
Ao fim de suas lutas, Ted Boy costumava jogar sua toalha para a plateia. Mas as moças começaram a disputar tal souvenir tão vorazmente, que não era raro a polícia precisar interferir no tumulto criado pelas fãs.
Em 1967 o produtor Herbert Richers convidou Ted Boy para estrear no cinema, ao lado do colega Renato Aragão. Muito antes de Rocky, o Lutador (Rocky, 1976) o lutador galã estrelou o filme Dois Na Lona (1968). Seu nome aparecia nos créditos antes do de Renato Aragão, que já não era estreante no cinema.
Por problemas diversos (falta de dinheiro, um acidente que quebrou o braço de Renato Aragão e o casamento de Ted Boy Marino), o filme demorou a ser concluído, e não teve nenhuma estratégia de lançamento. Mesmo os astros principais só souberam que o filme já estava em cartaz quando o viram sendo exibido em uma sala de cinema.
Em 1968, quando o filme foi lançado, Ted Boy Marino havia deixado o elenco de Os Adoráveis Trapalhões. Ele tinha um contrato com Tédi Alfonso, e este vendeu os direitos de luta de todo seu casting para a recém criada Rede Globo, que também passou a investir na luta livre, com o programa Telecatch Montilla.
Em 1972 Renato Aragão estrelou, já na Record, o programa Os Insociáveis, que tinha no elenco ainda a cantora Vanusa, mas agora também contava com a presença de Dedé Santana e Mussum, além do colega Roberto Guilherme, que fazia papéis de apoio desde os tempos de Adoráveis Trapalhões. Em 1975 o trio trapalhão migrou para a Tupi, e Vanusa deu lugar a Zacarias, surgia o programa Os Trapalhões, que passaria a ser transmitido na Globo a partir de 1977.
Na Globo, além de lutar aos sábados e domingos, Ted Boy tornou-se apresentador. Em 1969, toda terça-feira, ao lado da atriz Célia Biar, ele apresentava o programa de variedades Oh, que Delícia de Show! (1968-1969), e em 1969 também passou a apresentar diariamente o matinal Sessão Zás Trás, um programa infantil que exibia desenhos antes do almoço.
Ainda em 1969, Ted Boy estrelou a novela infanto-juvenil Ted Boy Contra Orion IV (1969), exibida antes do Jornal Nacional. Orion IV era o nome de sua academia de lutas, situada na Rua Taquari, 666, na Móoca. Pioneira em permitir mulheres em suas aulas, teve alunas como Wanderléa, Vanusa e Débora Duarte, ainda adolescente.
No final de 1969, porém, o patrocinador cortou o patrocínio do programa de lutas. O programa com Célia Biar foi cancelado e sua novela já havia acabado. O público feminino descobriu que Ted Boy havia se casado (com a filha de seu empresário), e o lutador começou a perder seu encanto. Para piorar, a censura proibiu as lutas livres na televisão.
Sem função na Globo, tornou-se jurado do programa Flávio Cavalcanti, por pouco tempo, antes de ter seu contrato rescindido.
Ted Boy comprou uma fazenda no interior e anunciou que iria se aposentar. Ele estava financeiramente bem, pois havia investido em uma fábrica de sapatos e outra de camisas no Brasil. Porém, a aposentadoria durou pouco, e ele passou a se apresentar lutando por todo o Brasil, em shows ao vivo.
Apesar da proibição dos programas de luta ter durando muito pouco, o gênero entrou em declínio, e sua popularidade diminui. Com mais de 40 anos, e um pouco acima do peso, Ted Boy também já não era mais o astro que fora, diante de uma nova geração de lutadores (por muitos anos sua idade foi reduzida em cinco anos, para fins publicitários). E na década de 80 ele reencontrou Renato Aragão, fazendo diversos personagens em quadros cômicos no programa Os Trapalhões, agora na Rede Globo.
Após muitos anos afastado do cinema, onde tivera uma única experiência, ele protagonizou Os Paspalhões em Pinóquio 2000 (1980). E embora nunca tenha feito um filme ao lado dos Trapalhões, ainda atuou em Os Três Palhaços e o Menino (1983), que tinha no elenco o jogador de futebol Zico e a atriz Rosana Garcia.
Na década de 90 ainda fez participações em programas como Você Decide e Escolinha do Professor Raimundo, onde interpretava o segurança da personagem Gardênia Alves, uma cantora interpretada por Fafy Siqueira.
Seu último trabalho na televisão foi na novela Bang Bang (2005-2006). Nos últimos anos de vida, ele era frequentemente visto jogando vôlei de praia na orla do Leme, no Rio de Janeiro, onde residia.
Em 27 de setembro de 2012 Ted Boy Marino foi levado as pressas para um hospital, para uma cirurgia de emergência devido a uma trombose. O lutador galã não resistiu as complicações da operação, falecendo aos 72 anos de idade.
A beleza e a sensualidade absolutamente estonteantes e incontestáveis do nosso querido e saudoso Ted Boy Marino também remetem às do igualmente louro e sensacional ator e lutador profissional também europeu Matthias Hues.