A triste vida de Hervé Villechaize, um pequeno gigante atormentado!

Biografias
Hervé Villechaize ficou famoso como Nick Nack, o capanga da vilão Francisco Scaramanga (Christopher Lee) em 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro (The Man with the Golden Gun, 1974), mas foi como o Tattoo, de A Ilha da Fantasia (Fantasy Island), é que o ator ficou eternizado na memória de milhares de fãs.

Hervé Jean-Pierre Villechaize nasceu em Paris, em 23 de abril de 1943. Sua mãe foi enfermeira voluntária durante a Segunda Guerra Mundial, e durante a sua gravidez, sofreu um acidente de carro durante uma missão. Ela acreditava que isto acabou causando a sua condição física, o nanismo, que fez com que ele medisse apenas 1,19 de altura na fase adulta. Na verdade, o ator sofria de um distúrbio endócrino.
Seu pai biológico é desconhecido, mas ele foi criado pelo cirurgião André Villechaize, que se casou com Evelyn, sua mãe, pouco antes dela dar à luz a Hervé. André era um homem muito rico, e gastou uma pequena fortuna, sem sucesso, em tratamentos para o filho.
Ainda muito criança, sua mãe abandonou a família, alegando que não conseguia viver ao lado de Hervé, que ficou aos cuidados do pai. Hervé Villacheize frequentou uma escola de pintura, e em 1959 aos 16 anos, entrou na École des Beaux-Arts para estudar arte. Nesta época, ele também começou a trabalhar como modelo vivo para outros pintores, e saiu de casa, devido a problemas com o pai.


Em 1961, ele tornou-se o mais jovem artista a expor seus trabalhos em um museu de Paris.


Digue à La Mer (1962), pintura de Hervé Villechaize
Em 1964 ele mudou-se para Nova York, e aprendeu inglês assistindo televisão. Inicialmente, ele trabalhou como artista, pintor e fotógrafo. Frequentando a vida boêmia da cidade, ele recebeu o convite para atuar em produções Off-Broadway, e chegou a trabalhar em uma peça de Sam Sheppard.
Em 1966 ele estreou no cinema no filme independente Chappaqua (1966), que tinha no elenco o mímico francês Jean-Louis Barrault e nomes da contra-cultura como William S. Burroughs, Allen Ginsberg e Ravi Shankar. Hervé chegou a ser escalado por Alejandro Jodorowsky para atuar em sua versão cinematográfica de Dune, em 1971, mas o projeto nunca foi finalizado.
Seu filme seguinte foi Maidstone (1972), filme dirigido e estrelado pelo aclamado escritor Norman Mailer. Após atuar em alguns filmes alternativos, o ator trabalhou em seu primeiro filme comercial, Quase, Quase uma Máfia (The Gang That Couldn’t Shoot Straight, 1971), um dos primeiros filmes do ator Robert De Niro.
Em 1974 Hervé atou no terror Seizure (1974), primeiro filme do cineasta Oliver Stone. No elenco ainda, um já decadente Troy Donahue.
Hervé Villechaize em Seizure

Após trabalhar em alguns filmes aternativos, ele teve sua grande chance quando Guy Hamilton o escalou para interpretar o capanga Nick Nack em 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro (The Man with the Golden Gun, 1974).
O filme fez um enorme sucesso, e transformou Hervé em um astro muito popular. Roger Moore, em sua biografia,  contou que durante as filmagens, viu Hervé saindo com mais de 40 mulheres, muitas vezes acompanhado de mais de uma em cada encontro.
 Hervé Villechaize em 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro
O ator estava empolgado com o estrelato, mas nem tudo eram flores. Na pré-estreia do filme, seus pais compareceram, Hervé não via a mãe desde 1955 e o pai desde 1961. Mas durante a projeção, eles se levantaram da sala do cinema e foram embora, considerando seu papel humilhante. Desde então, ele nunca mais teve contato com a sua família.
Após o filme, Hervé Villechaize deu inúmeras entrevistas e posou para milhares de fotos. Ele foi convidado para diversos eventos, e ganhou uma pequena fortuna, mas toda a popularidade não lhe garantiu novos trabalhos como ator.
Ele só retornaria ao cinema três anos depois, no obscuro Hot Tomorrows (1977). Desempregado e falido, após gastar todo dinheiro que havia ganho em mulheres, bebidas e excessos, Hervé perdeu a mansão que havia comprado, e estava morando em seu carro.


Foi então que ele recebeu a maior oportunidade de sua carreira, como o simpático Tattoo, o ajudante do Sr. Roarke (Ricardo Montalbán) em A Ilha da Fantasia (Fantasy Island, 1977-1984).


A série fez um enorme sucesso, e o bordão “o avião, o avião” devolveu a Hervé o estrelato. Ele recebia milhares de cartas de fãs, a grande maioria crianças, e foi indicado ao Globo de Ouro em 1982.


Ricardo Montalbán e Hervé Villechaize em A Ilha da Fantasia
 
Em 1980 ele se casou com Camille Hagen, sua segunda esposa. Ela era figurante na série, e eles tiveram um casamento conturbado. Hervé havia se tornado alcoólatra, e acreditava que a esposa havia se casado com ele apenas por dinheiro. Ele chegou a atirar contra ela em uma briga. Felizmente, ele errou o alvo. Eles se separaram em 1982.


Mas mesmo casado, o ator era extremamente mulherengo, e assediava as inúmeras figurantes da série, o que causou uma série de processos contra a emissora. Os muitos problemas que o ator causava, além de seus constantes atrasos, irritavam os produtores.


Para piorar a situação, ele e Ricardo Montalbán não se davam nos bastidores. Montalbán era um homem reservado, e extremamente religioso, e não aprovava o comportamento de Hervé, que chegou a trabalhar embriagado, inclusive em cenas em que contracenava com crianças.
Sua vida particular também era repleta de escândalos, o que prejudicava a imagem de uma série familiar. Em uma festa, ele chegou a bater no veterano Billy Barty. Barty estava no cinema desde a década de 30, e havia participado de O Mágico de Oz (The Wizard of Oz, 1939). Há muitos anos ele havia criado uma fundação para lutar pelos direitos dos atores com nanismo. Hervé odiava ser chamado de “pessoa pequena” e bateu em Barty dizendo que eles deveriam ser chamado de “anões“. Após a briga, o ator chegou a ser preso, mas os produtores pagaram sua fiança. A imprensa publicou a história até a exaustão.
Antes da briga, Barty chegou a participar como ator convidado em A Ilha da Fantasia.
 Ricardo Montalbán, Red Buttons, Hervé Villechaize e Billy Barty em A Ilha da Fantasia



Em 1983 Hervé brigou com os produtores, exigindo que ele recebesse um salário igual ao de seu colega Ricardo Montalbán, que ganhava mais. Os produtores alegaram que Montalbán era um ator com uma extensa carreira, tendo sido astro dos musicais da MGM. Hervé Villachaize por sua vez, dizia que seu personagem era muito mais popular (e era verdade). Sem chegarem num acordo, ele acabou demitido da série.


O ator Christopher Hewett entrou no elenco como o mordomo de Roarke, mas a audiência  despencou, e a série foi cancelada após mais uma temporada.

Enquanto gravava A Ilha da Fantasia, o ator ainda atuou em alguns filmes. Em 1978 ele trabalhou sob direção de Carl Reiner em O Maior (The One and Only, 1978). No período, Hervé ainda atuou no underground Forbidden Zone (1980) e na comédia Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu 2 (Airplane II: The Sequel, 1982) e chegou a gravar um disco como cantor.
 Hervé Villechaize e Henry Winkler em O Maior
Mas sem os holofotes do seriado, os papéis voltaram a cessar. Ele apareceu como convidado na série Arnold e no Teatro dos Contos de Fadas (Faerie Tale Theatre), série infantil produzida e estrelada por Shelley Duvall, e voltou a desaparecer.
 Gary Coleman e Hervé Villechaize
Hervé Villechaize e Shelley Duvall em O Teatro do Conto de Fadas
Na década de 80 ele chegou a morar na Espanha, onde participou de um programa humorístico, onde imitava primeiro-ministro Felipe González. Nesta década, Hervé também foi um forte militante contra o abuso de trabalho infantil em Hollywood. Mesmo em decadência, ele continuava sendo um ídolo da garotada.
Apenas em 1988 ele voltaria ao cinema, mas sem aparecer. Hervé fez uma das vozes que ligam para Whoopi Goldenberg na comédia O Telefone (The Telephone, 1988). Seu último trabalho no cinema ocorreu no mesmo ano, no soft erótico Um Toque de Sedução (Two Moon Junction, 1988).
Ele ainda apareceria no The Carol Burnett Show, em 1991, e no The Ben Stiller Show, em 1993, sua última aparição como ator.
Em 1993 o ator concedeu uma longa entrevista para o jornalista do New York Times Sacha Gervasi, após anos sem ser procurado pelos repórteres. A entrevista durou alguns dias, e foi bastante conturbada (o ator chegou a agredir e ameaçar Gervasi com uma faca), mas nela o ator revelou detalhes de sua vida, e conseguiu quebrar a barreira caricata que havia desenvolvido durante todos os anos de sua carreira.
Poucos dias depois de Gervasi terminar a entrevista retornar a Nova York (a entrevista foi feita em Los Angeles), Hervé Villechaize cometera suícidio, com apenas 50 anos de idade.
 Para Gervasi, que ainda nem tinha publicado a matéria, seu testemunho foi sua carta de despedida.
 Hervé Villechaize e Sacha Gervasi


Hervé Villechaize já havia tentado o suícido algumas vezes, quando finalmente tirou sua vida, em 04 de setembro de 1993. Após jantar e pintar um pouco, ele deu um tiro na cabeça, gravando tudo em vídeo. Antes de se matar, deixou um enorme depoimento para a câmera, onde pedia desculpas para sua namorada Kathy Self, e pedia para sua família (que o abandonará) não tentar tirar de Kathy a herança que ele deixava, dizendo que ela foi a única família que ele teve na vida.
Kathy Self, que também havia sido secretária do ator por anos, disse que ele sofria enormes dores devido os seus orgãos internos, que tinham um tamanho normal, e causavam grande pressão no interior do seu corpo, obrigando o ator a dormir ajoelhado para conseguir respirar. Na época, ele estava negociando o seu retorno à televisão, onde interpretaria o ajudante de Space Ghost em Space Ghost de Costa a Costa (Space Ghost Coast to Coast), um talk-show que mesclava atores reais com animação, produzido pelo Cartoon Netwoork.
Em 2018 o encontro de Gervasi e Hervé Villechaize foi levado as telas, no filme Meu Jantar com Hervé (My Dnner with Hervé, 2018), produzido pelo canal à cabo HBO. O filme foi estrelado por Peter Dinklage (de Game Of Thrones) no papel do ator.
Dinklage, que também produziu o longa, chegou a conhecer Villechaize no começo de sua carreira. 


Peter Dinklage, Kathy Self e Hervé Villechaize
 Peter Dinklage e Andy Garcia em Meu Jantar com Hervé


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5 thoughts on “A triste vida de Hervé Villechaize, um pequeno gigante atormentado!

  1. Deus só não deu uma estatura normal. O resto,do que era bom, foi tudo pra ele. Deu talento para o cinema e tv, deu fama, fortuna e as mulheres mais lindas do mundo! O que mais ele podia querer? Uns se matam porque a vida não lhes dá nada. Outros se matam, porque a vida lhes dá quase tudo. Eu tenho quase 50 anos. Se eu conquistasse 1/4 do que ele conquistou, eu seria um homem extremamente feliz!

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